A 1ª Virada Afro-Cultural de Itajaí aconteceu no sábado (21) com uma série de atividades, apresentações e opções gastronômicas, na lateral da Sociedade Sebastião Lucas, no bairro Vila Operária. Foram 12 horas ininterruptas de atrações que enalteceram as expressões afro-culturais e deram visibilidade a projetos, movimentos, grupos e artistas independentes da cidade e região. Centenas de pessoas acompanharam a programação.
O evento abriu com uma roda de capoeira do programa Arte nos Bairros e convidados, apresentações dos grupos de dança afro Next e Ubuntu, também do Arte nos Bairros. No almoço, houve roda de samba com Manga e Batucada. À tarde, a programação seguiu com sarau (poesia, canto e dança), hip hop com Farc’s MC, show da banda Sons do Haiti, grupo de dança Millennium e Maracatu Nova Lua.
Já à noite, teve Samba de Bárbara e Bateria Pura Kadência. O encerramento foi com o Dj Ciggaz. Ao longo de toda a programação, ainda ocorreu feira de artesanato afro e livros, grafite com o artista Juba, que grafitou a imagem de Sebastião Lucas, recreação para as crianças e apresentações de samba de gafieira com Carla Quadros e Demian.
“Muito especial o evento, faz cumprir o legado de manter a comunidade conectada com a ancestralidade e cultivar a negritude e a arte. É bonito ver o movimento nesse local que carrega histórias de luta por espaço para existir e união que perpassa fronteiras. Fico feliz por ter sentido mais um pouco da energia ancestral que essa cidade carrega”, comentou Jackeline Pires, formanda de Psicologia.
Luciana Castilho, produtora de eventos, prestigiou acompanhada de sua filha Isabela, de 7 anos: “Achei interessante demais, nos divertimos muito. Pode crer que a próxima edição será ainda maior”, afirmou Luciana.
A expectativa de Graziele Gleise, representante da Câmara Setorial de Expressões Afro-Culturais do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Itajaí (CMPC), também é esta: “Nós existimos e resistimos. Este evento é um marco, um divisor de águas. Será o primeiro de muitos”, desejou.
Normélio Weber, superintendente administrativo das Fundações de Itajaí, ressaltou referências na cidade para consolidação de políticas públicas de igualdade racial. “A empatia tem que dominar. Para além de recuperar um prédio que é patrimônio público – e este movimento está disposto a se unir pela recuperação da Sebastião Lucas –, a Virada exalta a cultura, aproxima, mexe com a autoestima de uma raça forte que construiu tudo isso”, reforça.
A iniciativa do Conselho da Comunidade Negra de Itajaí (Conegi) e Setorial de Cultura Afro do CMPC, teve realização e apoio do Município de Itajaí, Fundação Cultural e Secretaria de Promoção da Cidadania.
Sobre a Sociedade Sebastião Lucas
A Sociedade Cultural e Beneficente Sebastião Lucas foi fundada em 22 de maio de 1952, na Rua Laguna, no bairro Vila Operária, onde permanece até hoje. Tombado como Patrimônio Cultural de Itajaí, o clube possui um legado histórico e social importante para a comunidade afrodescendente da cidade.
O nome do clube foi dado em homenagem a Sebastião Lucas Pereira, trabalhador portuário e um dos fundadores da Sociedade Beneficente XV de Novembro, presidente da mesma por vários anos, conceituado e considerado orgulho para os negros de Itajaí.
A Sociedade Sebastião Lucas tornou-se, a partir dos anos cinquenta, a referência dos afrodescendentes não só de Itajaí, mas de toda a região.
“A Sociedade Sebastião Lucas é um lugar de memória, de muitas lembranças”, disse o historiador e professor José Bento Rosa da Silva. Durante a virada, ele leu um relato do filho de Sebastião Lucas, em que descreve algumas das suas memórias sobre o clube e disse que além de manter o prédio e restaurar os ideais dos fundadores é preciso renovar para transformar o presente.